quinta-feira, 18 de novembro de 2010

“Recuperações em MT não estão sendo cumpridas pelos Grupos”

Denúncia vem da Acrivale, que concentra, somente em Juara, o maior rebanho de MT



Desde o início do ano passado até agora, mais de uma dezena e meia de plantas está sob recuperação em MT
MARIANNA PERES
Da Editoria

A Associação dos Criadores do Vale do Arinos (Acrivale) está preocupada com os rumos que as recuperações judiciais dos frigoríficos, que atuam em Mato Grosso, estão tomando. “Nada está sendo cumprido, na verdade. Damos chances às empresas, mas nada do que é acordado é honrado”, critica o presidente da entidade, Esly Sebastião Piovezan Moreira de Souza. Diante da situação, que segundo ele não indica nenhum desfecho breve e muito menos favorável ao segmento, a Acrivale reforça a orientação da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) de vender bovinos somente à vista.

A recomendação da Acrivale foi emitida na última terça-feira a todos os pecuaristas que integram a área de atuação de entidade, que engloba os municípios do rio Arinos: Juara, Porto dos Gaúchos, Novo Horizonte e Tabaporã. Juara detém o maior rebanho de bovinos do Estado, mais de 900 mil cabeças, e está entre os dez maiores rebanhos do Brasil. “Somente junto aos pecuaristas de Juara os frigoríficos Frialto, Quatro Marcos e Independência devem mais de R$ 5 milhões. Não bastasse o pedido de recuperação por parte do grupo Frialto, situação essa que vem se arrastado desde meados do primeiro semestre. Duas assembleias de credores realizadas e nenhuma proposta real de pagamento aos pecuaristas, nos deixando a incerteza da quitação desses débitos”.

O presidente diz que esta semana a Acrivale foi informada a respeito da suspensão, por tempo indeterminado, do pagamento das parcelas do grupo Quatro Marcos, que teve seu plano aprovado no início desse ano. “Pensávamos que a recuperação judicial tinha por objetivo recuperar uma empresa, como diz o nome, aprovando um plano viável e justo a seus credores, porém não é isso que vem acontecendo. Estamos diante de um desrespeito à classe produtora do Vale do Arinos”.

Sebastião destaca que a venda à vista tem de ser reforçada, já que os frigoríficos utilizam uma estratégica que ele classifica de “má-fé” e que acaba seduzindo o pecuarista. “A arroba à vista está cotada em cerca de R$ 105. Porém, esse acaba sendo o valor a prazo e para venda à vista há um desconto em que a arroba sai por R$ 100, derrubando a cotação. Para não perder um percentual de ganho, muitos vendem para receber 30 ou 40 dias após o abate”. Apesar do nome “à vista”, como destaca Sebastião, o pagamento ao pecuarista se efetiva em três ou quatro dias após o abate. “Somente forçando a venda à vista é possível reduzir o risco de calote ao qual o pecuarista está sujeito ultimamente. Nossa mobilização é para que ninguém mais caia no conto da venda a prazo”, sentencia.

O presidente da Acrivale lembra que duas assembleias gerais de credores foram marcadas pelo Frialto – grupo frigorífico mato-grossense –, mas nada ficou acordado. “A recuperação judicial não tem sido garantia de nada para nós, pecuaristas, pelo menos”.

Os bovinos da região estão sendo comercializados com a unidade do Frialto de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá) e a unidade local do JBS-Friboi. Para serem abatidos em Sinop, na unidade do Frialto, os bovinos percorrem cerca de 300 quilômetros e somente esta planta responde pelo consumo de 40% dos bovinos destinados ao abate em Juara (709 quilômetros ao norte de Cuiabá). Mesmo sob pedido de recuperação, o Frialto tem comprado à vista, como informa Sebastião. O Frialto, entre os grandes grupos em atuação no Estado, é o último deles a entrar com a recuperação judicial, pedido esse protocolado em maio deste ano. Do início de 2009 até agora, 16 plantas frigoríficas entraram com pedido de recuperação no Estado, realidade que reduziu em mais de 30% a capacidade de abate local.

ACRIMAT – Empunhando a bandeira da venda à vista há mais de um ano, a Acrimat frisa que esta é a melhor blindagem que o segmento pode obter neste momento. Cerca de 65% dos animais estão sendo vendidos de forma à vista no Estado. “A crise dos frigoríficos realmente mudou a forma de comercialização, em que prevalecia a condição de pagamento com 30 dias após o abate”, aponta o diretor da Associação, Luciano Vacari.

RANKING – Depois de Juara, com mais de 905 mil bovinos, o segundo município com o maior rebanho em Mato Grosso é Cáceres,com 825,37 mil, seguido de Vila Bela com 803,59 mil. Em quarto está Alta Floresta com 760,17 mil e em quinto, Vila Rica com 642,32 mil.