sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mapa aprova controle paraguaio para exportação de carne

Autor: Assessoria 

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) considera satisfatório os controles realizados pelos estabelecimentos paraguaios e pelo serviço veterinário oficial daquele país para a exportação de carne maturada e desossada. A constatação foi comunicada em uma nota técnica conjunta do Departamento de Saúde Animal (DSA) e do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) após a análise do relatório da missão veterinária do Ministério, encerrada no dia 20 de janeiro.

Segundo o documento, os frigoríficos e o Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal do Paraguai (Senacsa, sigla em espanhol) promovem, até o momento, as garantias efetivas para a mitigação do risco de introdução do vírus da febre aftosa quando da importação de carne bovina desossada e maturada. Somente esse tipo de carne pode entrar no Brasil desde dezembro de 2011. A exceção é o estado de Santa Catarina, reconhecido internacionalmente como livre de febre aftosa sem vacinação e que não pode receber carne do Paraguai.

Durante 10 dias, a missão brasileira inspecionou três plantas frigoríficas com maior volume de exportação para o Brasil. O objetivo da visita foi avaliar os procedimentos de certificação sanitária atestados pelo serviço oficial paraguaio em atendimento aos requisitos sanitários estipulados pelo DSA, de forma a assegurar que as carnes importadas não são eventuais veículos de entrada do vírus no Brasil.

Além de reuniões com as autoridades do Senacsa, os dois auditores do Ministério da Agricultura verificaram procedimentos e revisaram os registros de inspeção ante e post mortem, rastreabilidade do processo de abate/desossa/estocagem/expedição, produção de carne bovina habilitada, execução da maturação sanitária e calibração de instrumentos. Os trabalhos também se estenderam às estruturas de campo do Senacsa, onde foram analisados os controles de saúde animal – mediante análise da base de dados do trânsito de animais –, verificação documental dos procedimentos de controle e registros das movimentações de animais e atualização do cadastro de produtores e propriedades.

Diante do quadro, o DSA se comprometeu em estudar a possibilidade de redução da área atualmente proibida – todo o Departamento de San Pedro) para restringir apenas a zona norte do Departamento. Para tanto, deverão ser adotadas garantias adicionais para evitar que quaisquer propriedades do restante do país que receberem animais oriundos dessa região também se tornem impedidas de enviar animais para abate destinados à exportação ao Brasil, por um período mínimo de 30 dias.

O Comitê Veterinário Permanente do Mercosul (CVP) também divulgou um comunicado oficial sobre a missão de cooperação técnica realizada pela entidade, de 15 a 21 de janeiro, no país vizinho. O documento – que poder ser visualizado no site do CVP – sugere uma série de medidas para controlar a situação de emergência que o Paraguai enfrenta atualmente e cumprir com o Plano Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA), ou seja, eliminar a doença em todo o continente até 2020. 

Frigorífico tem alto índice de empregabilidade com programa Jovem Aprendiz

Autor: Assessoria com Redação 

Pelo menos 50% dos funcionários que começaram a trabalhar no frigorífico Frialto pelo programa Jovem Aprendiz, ano passado, acabaram contratados e, para este ano, o objetivo é ampliar ainda mais. “Nossa perspectiva para este ano é de efetivar um percentual ainda maior que o de 2011. Assim estaremos dando oportunidades para formar profissionais qualificados e alinhados com a cultura e princípios da empresa e promovendo aos Jovens um desenvolvimento pessoal e profissional”, afirmou a gerente de Recursos Humanos da empresa, Loreni Pedroso.

O programa é dividido em parte teórica ministrada pelo SENAI e, parte prática, voltada para a área de atuação do jovem, desenvolvida pela empresa. Assim, o novo profissional ganha uma visão geral do processo industrial ou administrativo, conforme classificação do programa.

O grupo é composto, atualmente, com unidades industriais, de transportes e agropecuária em Mato Grosso (Sinop, Matupá e Nova Canaã do Norte) e um centro de distribuição em
São Paulo (Jundiaí). 

Ministério Público abre investigação sobre maus-tratos em fábrica da Sadia

João Fellet
Da BBC Brasil em Brasília
O Ministério Público do Trabalho (MPT) afirmou nesta quinta-feira que investigará as denúncias de maus-tratos em fábrica da Sadia em Samambaia, no Distrito Federal.
O anúncio ocorre após publicação de reportagem da BBC Brasil em que refugiados e imigrantes empregados na unidade relataram enfrentar condições de trabalho degradantes. A procuradora Marici Barros Pereira será responsável pela investigação.
Os trabalhadores, todos muçulmanos, atuam no abate de frangos pelo método halal, selo requerido pelos países de maioria islâmica que importam a carne brasileira.
O abate halal requer que os animais tenham suas gargantas cortadas manualmente por seguidores do islã, que devem pronunciar a frase 'Em nome de Deus, Deus é maior!' (Bismillah Allahu Akbar, em árabe) antes de cada degola. O gesto deve cortar a traqueia, esôfago, artérias e a veia jugular, para apressar o sangramento e poupar o animal de maior sofrimento.
Embora ocorra dentro da fábrica da Sadia, a atividade é terceirizada e executada pela empresa CDIAL Halal, braço do grupo religioso CDIAL (Centro de Divulgação do Islã para América Latina), baseado em São Bernardo do Campo (SP).
Os funcionários dizem efetuar tarefa repetitiva e extenuante (cada um degola cerca de 75 frangos por minuto, sem possibilidade de executar outras atividades) e reclamam por serem transferidos de Estado com frequência.
Dizem ainda que trabalhadores que questionaram o tratamento foram demitidos e prontamente substituídos e se queixam por não receberem os mesmos benefícios obtidos pelos funcionários da Sadia, como plano de saúde e bônus por resultados.
Há 24 estrangeiros na fábrica. Quase todos vivem em duas casas em Samambaia cedidas pela CDIAL Halal. A BBC Brasil obteve fotos do interior de uma das residências. Nos quartos, habitados por até oito pessoas, colchões empilhados durante o dia são esticados no chão à noite, para compensar a falta de camas.
Para o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) Ricardo Nino Ballarini, as condições relatadas pelos trabalhadores em Samambaia são análogas à escravidão.
"A empresa se vale da situação vulnerável deles no país, o que permite caracterizar condição análoga à de escravo. Ao transferi-los constantemente de Estado, impede que criem raízes, que estabeleçam relações pessoais e denunciem os abusos à polícia", afirma.
Ballarini diz que a situação se assemelha à descrita por estrangeiros que executam o abate halal em duas fábricas da Sadia no Paraná, onde a CDIAL Halal também é responsável pela atividade.
As condições laborais nas duas fábricas, nos municípios de Dois Vizinhos e Francisco Beltrão, são objeto de duas ações movidas pelo procurador. Ele diz que, em ambas as unidades, os funcionários estrangeiros enfrentavam jornadas de até 15 horas diárias, não recebiam hora extra e eram privados de benefícios dados aos trabalhadores da Sadia, como participação nos lucros e plano de saúde. Além disso, afirma que muitos trabalhavam sem carteira assinada.
Segundo o procurador, os casos de Samambaia e das fábricas paranaenses indicam que pode haver uma rede nacional de exploração de trabalho no abate halal. A BBC Brasil apurou que o tema também é objeto de uma investigação do MPT em Campinas (SP).

Situação legal

A CDIAL Halal, que presta serviços para quase todas as empresas brasileiras que exportam carne para os países islâmicos, diz empregar cerca de 350 funcionários no abate halal, 90% dos quais provêm de países africanos ou asiáticos como Senegal, Somália, Bangladesh, Paquistão, Iraque e Afeganistão.
A empresa afirmou em nota que todos os seus funcionários encontram-se em situação legal no país e procuram a empresa por livre vontade. A companhia diz que o abate se dá conforme normas adequadas de segurança, que todos os funcionários têm carteira assinada e executam jornada de até oito horas (intercaladas entre uma hora trabalhada e uma de descanso), registrada por relógio de ponto biométrico.
A Sadia (hoje parte da BR Foods, maior empresa alimentícia brasileira e uma das maiores do mundo) diz que os funcionários terceirizados cumprem uma jornada de trabalho equivalente à dos trabalhadores da empresa e estão sujeitos às mesmas condições que os outros funcionários da unidade.
A empresa não se pronunciou sobre as condições dos dormitórios dos funcionários terceirizados. Já a CDIAL Halal afirmou que "não tem qualquer obrigação de tutelar o domicílio de seus empregados, tampouco seus hábitos de higiene pessoal".
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior a exportação de frango halal para países muçulmanos rendeu cerca de R$ 5 bilhões ao Brasil em 2011.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Brasil enviará resposta sobre relatório do embargo russo dia 10

26 de janeiro de 2012 - 07:59h 
Autor: A Gazeta 

Resposta do governo brasileiro ao relatório de inconformidade elaborado pelo governo russo, após visita de uma missão às plantas frigoríficas de Mato Grosso, Goiás e São Paulo, será encaminhada até o dia 10 de fevereiro. Prazo foi confirmado pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) nesta quarta-feira (25), sem mencionar,
entretanto, os pontos que precisam ser corrigidos para restabelecer o comércio com a Rússia.

Inspeção nos 3 estados brasileiros foi realizada em novembro, 4 meses após o início do embargo, em 15 de julho do ano passado, para Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná. Relatório de inconformidade elaborado em novembro foi encaminhado pelo governo russo este mês, antecedendo reunião do ministro Mendes Ribeiro Filho com a ministra da agricultura da Rússia, Yelena Skrynnik, no último fim de semana, durante evento em Berlim (Alemanha). Tão logo seja enviada a resposta ao relatório serão realizadas reuniões técnicas com representantes dos 2 países, para elaborar um protocolo de equivalência, conciliando as exigências sanitárias da Rússia e do Brasil.

Cenário - Previsão do Mapa é que, com a aprovação da Rússia como integrante da Organização Mundial do Comércio (OMC), o problema do embargo será resolvido, uma vez que o país teria anunciado a intenção de adotar os critérios sanitários utilizados pela União Europeia, para onde o Brasil já exporta carne. Por aqui, os suinocultores aguardam
com ansiedade a solução do impasse, uma vez que o setor tenta de se recuperar da crise iniciada no ano passado e o mercado russo se configura como um dos mais importantes.

Diretor-executivo da Associação de Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Custódio Rodrigues, informa que os preços caíram e os custos subiram. Recuperação dos preços pagos aos produtores começou a acontecer no fim do ano passado, mas na última semana, voltou a baixar cerca de 12%, oscilando de R$ 2,50 (kg) para R$ 2,20 (kg). Redução está sendo provocada pelo aumento da oferta da carne suína no mercado interno, após queda nas exportações. Alternativa buscada pelos criadores para driblar o problema é garantir a abertura de novos mercados. 

Refugiados denunciam maus-tratos em fábrica da Sadia

Atualizado em  26 de janeiro, 2012 - 05:58 (Brasília) 07:58 GMT
Casa de refugiados em Brasília. João Fellet. BBC Brasil
Ameaçado de morte pelo Talebã por se recusar a pagar propinas ao grupo, Mahmoud (nome fictício) achou por bem abandonar sua cidade, na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão.
Pagou US$ 5 mil dólares a uma gangue de tráfico humano, que prometeu lhe enviar a um país do outro lado do mundo do qual sabia muito pouco, mas onde, segundo o grupo, poderia solicitar refúgio e reiniciar sua vida em paz: o Brasil.
Algumas semanas depois, já em território brasileiro, ele diz ter sido vítima de uma rede de exploração de trabalhadores estrangeiros em frigoríficos nacionais.
Quando completou quatro meses de trabalho e começava a se adaptar à nova vida, Mahmoud foi transferido de Estado por seu empregador. Dormia sempre em alojamentos apinhados de estrangeiros, que se revezavam nas poucas camas disponíveis.
Nas fábricas, executava uma única tarefa: com uma faca afiada, degolava cerca de 75 frangos por minuto pelo método halal, selo requerido pelos países de maioria islâmica que importam a carne brasileira. "Não dava nem para enxugar o suor", ele conta, referindo-se à alta velocidade com que tinha de executar os cortes na linha de abate. Pelo trabalho, recebia cerca de R$ 700 mensais.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior a exportação de frango halal para países muçulmanos rendeu cerca de R$ 5 bilhões ao Brasil em 2011.
Certo dia, como um colega se adoentou, Mahmoud foi escalado para trabalhar por dois turnos seguidos. Ao se queixar ao supervisor, foi insultado e demitido. No dia seguinte, outro estrangeiro já ocupara seu lugar.
Sem um tostão, hoje aguarda pela definição do seu pedido de refúgio ao Conare (Comitê Nacional para os Refugiados, órgão vinculado ao Ministério da Justiça), faz as refeições em centros religiosos e procura outro emprego.
"Disseram que no Brasil eu encontraria paz, mas virei um escravo e, hoje, vivo como um mendigo."
A BBC Brasil contatou, além de Mahmoud, outros dois trabalhadores que se disseram vítimas das mesmas condições de trabalho em frigoríficos brasileiros.
Os dois últimos integram um grupo de 25 estrangeiros que trabalham na fábrica da Sadia (hoje parte da BR Foods, maior empresa alimentícia brasileira e uma das maiores do mundo) em Samambaia, no Distrito Federal. Quase todos moram em duas casas cedidas pela CDIAL Halal, empresa terceirizada pela Sadia para o abate dos frangos pelo método halal.

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A BBC Brasil obteve fotos do interior de uma das residências. Nos quartos, habitados por até oito pessoas, colchões empilhados durante o dia são esticados no chão à noite, para compensar a falta de camas. Como não há armários nem geladeira na casa, as roupas e a comida são armazenadas no chão ou sobre o estrado de uma cama, improvisado como mesa.
Dormitório em Samambaia  Foto Joao Fellet/BBC Brasil
Como não há armários nem geladeira na casa, roupas e a comida são armazenadas no chão ou sobre o estrado de uma cama, improvisado como mesa
As refeições são feitas no chão do quarto, em cima de um pedaço de papelão. Na cozinha, o fogão acumula crostas de gordura.
Todos os trabalhadores são muçulmanos, já que o abate halal requer que os animais tenham suas gargantas cortadas manualmente por seguidores do islã. Eles devem pronunciar a frase "Em nome de Deus, Deus é maior!" (Bismillah Allahu Akbar, em árabe) antes de cada degola. O gesto deve cortar a traqueia, esôfago, artérias e a veia jugular, para apressar o sangramento e poupar o animal de maior sofrimento.
Segundo a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, há apenas três empresas no Brasil que fornecem o certificado halal, dentre as quais a CDIAL Halal – braço do grupo religioso CDIAL (Centro de Divulgação do Islã para a América Latina, baseado em São Bernardo do Campo).
A CDIAL Halal, que presta serviços para quase todas as empresas brasileiras que exportam carne para os países islâmicos, diz empregar cerca de 350 funcionários no abate halal, 90% dos quais provêm de países africanos ou asiáticos como Senegal, Somália, Bangladesh, Paquistão, Iraque e Afeganistão.
Boa parte dos oriundos de áreas em conflito obtêm status de refugiado no Brasil, o que lhes permite trabalhar legalmente. Os outros se estabelecem como imigrantes e, ao conseguir trabalho no abate halal, atividade para a qual há pouca mão de obra brasileira disponível, têm o caminho para sua regularização encurtado.

Condições análogas à escravidão

Para o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) Ricardo Nino Ballarini, as condições relatadas pelos trabalhadores em Samambaia são análogas à escravidão.
"A empresa se vale da situação vulnerável deles no país, o que permite caracterizar condição análoga à de escravo. Ao transferi-los constantemente de Estado, impede que criem raízes, que estabeleçam relações pessoais e denunciem os abusos à polícia", afirma.
Ballarini diz que a situação se assemelha à descrita por estrangeiros que executam o abate halal em duas fábricas da Sadia no Paraná, onde a CDIAL Halal também é responsável pela atividade.
As condições laborais nas duas fábricas, nos municípios de Dois Vizinhos e Francisco Beltrão, são objeto de duas ações movidas pelo procurador. Ele diz que, em ambas as unidades, os funcionários estrangeiros enfrentavam jornadas de até 15 horas diárias, não recebiam hora extra e eram privados de benefícios dados aos trabalhadores da Sadia, como participação nos lucros e plano de saúde. Além disso, afirma que muitos trabalhavam sem carteira assinada.
Ballarini conta que os trabalhadores, que costumam chegar ao Brasil com vistos de turista, são geralmente arregimentados para o serviço em mesquitas.



"Mesmo sabendo que a situação é precária, eles têm medo de denunciar e serem deportados."
Já a CDIAL Halal afirmou em nota que todos os seus funcionários encontram-se em situação legal no país e procuram a empresa por livre vontade. A companhia diz que o abate se dá conforme normas adequadas de segurança, que todos os funcionários têm carteira assinada e executam jornada de até oito horas (intercaladas entre uma hora trabalhada e uma de descanso), registrada por relógio de ponto biométrico.
A empresa afirma ainda que horas extras são devidamente registradas e pagas, e que todos os funcionários são amparados por acordos coletivos firmados com sindicatos da classe.
Fábrica da Sadia em Samambaia (DF) Foto Joao Fellet/BBC Brasil
Quanto às transferências dos trabalhadores, a CDIAL Halal afirma que alguns contratos de trabalho contam com cláusula que prevê essas ações. Nesses casos, a empresa diz arcar com os custos da mudança.
Ministério do Trabalho diz que apurará as denúncias de abusos em Samambaia e que prepara uma nova regulamentação para o trabalho em frigoríficos

Rede nacional

Segundo o procurador Ballarini, os casos de Samambaia e das fábricas paranaenses indicam que pode haver uma rede nacional de exploração de trabalho no abate halal. A BBC Brasil apurou que o tema também é objeto de uma investigação do MPT em Campinas (SP). O Ministério do Trabalho, por sua vez, afirmou que apurará as denúncias de abusos em Samambaia e que prepara uma nova regulamentação para o trabalho em frigoríficos.
A denúncia contra a fábrica da Sadia em Dois Vizinhos foi julgada procedente, e a BR Foods (Sadia) e a CDIAL Halal foram condenadas a pagar R$ 5 milhões ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), como forma de reparar os danos causados aos trabalhadores.
As empresas recorreram, e o tribunal de segunda instância baixou o valor da indenização para R$ 1 milhão, embora tenha mantido a decisão da corte anterior. Agora, a empresa deve recorrer outra vez.
Já a ação movida contra a fábrica da Sadia em Francisco Beltrão foi julgada improcedente, e o MPT recorreu.

Terceirização

Além de condenar as condições de trabalho no abate halal, Ballarini considera ilegal a terceirização da atividade, efetuada pela BR Foods em todas as suas fábricas que exportam para países islâmicos. Ele argumenta que uma companhia só pode terceirizar uma de suas atividades-meio (no caso da Sadia, o abate de animais) se não houver subordinação entre os terceirizados e a empresa principal.
No entanto, diz que o abate halal se dá inteiramente na linha de montagem da Sadia, com participação de funcionários da companhia em todos os processos que não a degola.
"Ao terceirizar, a empresa economiza dinheiro. Foi o que Sadia fez", diz. "Nada impede que a Sadia contrate os empregados, ainda que adeptos do islã. Só a supervisão e a certificação deveriam ser feitas pela entidade competente".
Já a BR Foods (Sadia) afirmou em nota que a terceirização do abate halal atende à exigência dos mercados islâmicos. "De acordo com tais exigências, o trabalho deve ser executado por funcionários muçulmanos que sejam vinculados a uma entidade certificada pelas autoridades daqueles países. Portanto, a contratação terceirizada é uma necessidade."
A empresa afirma, no entanto, que os funcionários terceirizados cumprem uma jornada de trabalho equivalente à dos trabalhadores da empresa e estão sujeitos às mesmas condições que os outros funcionários da unidade.
A BR Foods não se pronunciou sobre as condições dos dormitórios dos funcionários terceirizados. CDIAL Halal, por sua vez, afirmou que "não tem qualquer obrigação de tutelar o domicílio de seus empregados, tampouco seus hábitos de higiene pessoal".
A empresa diz que a concessão de residência visa apenas facilitar os entraves burocráticos que os empregados encontram para alugar uma residência. Ainda assim, a empresa diz adotar "uma série de medidas para orientar e auxiliar seus empregados no âmbito doméstico, inclusive disponibilizando uma faxineira para limpeza das casas uma vez por semana."

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Captação da JBS encerra fechamento do mercado de ‘junk bonds’

Mesmo com classificação abaixo do grau de investimento, a empresa fez uma captação no mercado internacional em seis meses para aproveitar a queda nas taxas de referência


jbs
O maior frigorífico do mundo planeja emitir US$ 400 milhões em títulos em dólar com prazo de oito anos ainda nesta semana

O maior frigorífico do mundo planeja emitir US$ 400 milhões em títulos em dólar com prazo de oito anos ainda nesta semana
O maior frigorífico do mundo planeja emitir US$ 400 milhões em títulos em dólar com prazo de oito anos ainda esta semana, segundo uma pessoa próxima da transação. A emissão será a primeira de empresas classificadas como junk desde 7 de julho, encerrando o mais longo período de escassez de ofertas entre os maiores mercados emergentes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A taxa dos US$ 900 milhões em papéis da JBS com vencimento em 2018 caiu 409 pontos-base, ou 4,09 pontos percentuais, desde 4 de outubro, para 9,65 por cento.
As evidências de que a crise da dívida europeia está dando um alívio alimentou a recuperação do apetite de investidores por dívida de mercados emergentes. O rendimento médio de papéis com nota inferior a Baa3 pela Moody’s Investors Service Inc. e BBB- pela Standard & Poor’s Ratings Services de países em desenvolvimento caiu 236 pontos-base nos últimos três meses, segundo o JPMorgan Chase & Co.
A JBS está seguindo os passos da polonesa Polkomtel SA e do Rizal Commercial Banking Corp., das Filipinas, em vender dívida de “grau especulativo” no exterior este mês.
“Se você tiver a chance de ir a mercado, você tem que aproveitar essas subidas”, disse Alfredo Viegas, diretor- gerente de mercados emergentes da Knight Capital, em Greenwich, Connecticut. “As janelas de oportunidade para acessar o mercado podem ser muito passageiras. As tesourarias aprenderam isso ano passado.”
Recuperação mundial
Bolsas mundiais, commodities e o euro estão se recuperando enquanto os custos de captação caem para países como Itália e Espanha e a Grécia chega mais perto de um acordo com o detentores de seus títulos de dívida. Autoridades do governo da Alemanha disseram ontem em Berlim que podem estar abertos a aumentar o limite de 500 bilhões de euros para pacotes de ajuda conjunta. Isso pode acontecer a partir de julho, quando um fundo de ajuda permanente for mantido em paralelo a outro fundo temporário.
Os títulos da JBS rendem 527 pontos-base acima do que pagam papéis do governo brasileiro com vencimento similar. Em 4 de outubro, essa diferença chegou ao recorde de 914 pontos-base, segundo dados compilados da Bloomberg. A empresa tem nota de crédito BB pela Standard & Poor’s, dois níveis abaixo do grau de investimento e três abaixo da classificação soberana do País.
A JBS, com sede em São Paulo, contratou o JPMorgan para coordenar sua nova oferta, disse a pessoa, que pediu anonimato porque os termos da emissão não foram fechados. A última vez que a empresa acessou o mercado internacional foi em maio, quando captou US$ 650 milhões pagando taxa de 7,51 por cento.

Frango rouba mão de obra da cana-de-açúcar

Autor: Gazeta do Povo 

A escassez de mão de obra que aflige o setor sucroalcooleiro vem se intensificando com o aumento da demanda nas indústrias de carne de frango espalhadas pelo estado. Não há levantamento preciso, mas a projeção de representantes da cadeia do álcool é de que milhares de trabalhadores trocaram os canaviais e usinas pelas linhas de produção dos frigoríficos. Batendo recordes a cada ano, a avicultura chegou ao patamar de 550 mil empregos diretos e indiretos no Paraná – 5% da po­­pulação. En­­quanto isso, o setor alcooleiro em­­prega 80 mil pessoas, segundo a Associação de Produtores de Ál­­cool e Açúcar do Paraná (Alco­­par). O mesmo quadro que preocupa a indústria canavieira vem fa­­zen­­do bem para as economias locais.

A disputa por mão de obra en­­tre as usinas alcooleiras e os frigoríficos é mais intensa no Noroeste do estado. A explicação está na importância das duas atividades para a geração de trabalho e a mo­­- vimentação dos setores de comércio e serviços. Com metade dos 620 mil hectares de cultivo da cana-de-açúcar do Paraná, o Noroeste reúne um terço dos abatedouros instalados no estado. Das 32 empresas filiadas ao Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), 13 estão na região e foram responsáveis por 42,15% da produção paranaense em 2011 – que chegou 1,4 bilhão de quilos de frangos. 

Os reflexos da mudança de perfil da mão de obra podem ser medidos no comércio das cidades onde os frigoríficos estão instalados. Com carteira assinada e mais estabilidade, diferente do setor alcooleiro em que o contrato de trabalho é sazonal e paga por produção, os trabalhadores da indústria da carne comemoram o fato de poderem comprar no crediário, além de ingressar em programas sociais como o “Minha Casa, Minha Vida”. 

“A mão de obra especializada da cana-de-açúcar, aquela que opera máquinas, ainda tem uma condição melhor de trabalho. Mas, o trabalhador sem especialização que fica horas debaixo do sol está sendo atraído pelo salário mais alto dos frigoríficos”, explica Clau­­demir Domingos Lansa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon. 

O município, com 19 mil hectares de canaviais, abriga a Usina Santa Terezinha, com 1,8 mil trabalhadores, e uma das sete indústrias de carne que o Grupo Ave­­rama mantém no estado, com 700 funcionários. “Desde 1996, quando a Averama se instalou, a disputa é grande”, afirma Lansa. 

Novos investimentos 

A própria disponibilidade de mão de obra é um dos fatores que atrai novas empresas para o Noroeste. A indústria BR Frango está finalizando a construção de um abatedouro para industrializar 420 mil aves/dia na cidade de Santo Inácio – o início da operação será em março. A previsão é que 2,5 mil postos de trabalho sejam abertos e, grande parte, preenchidos por trabalhadores oriundos do setor alcooleiro. 

“Temos três usinas de álcool na região que liberam 600 funcionários cada uma quando termina a safra. O que seria um problema so­­cial se torna oportunidade. Das 2,5 mil vagas, 2,1 mil po­­­­dem ser preenchidas pelos trabalhadores da cana”, aponta o presidente da BR Frango, Reinaldo Mo­­rais. O restante das vagas exige grau de escolaridade mais avançado. 

Dos 300 funcionários que estão trabalhando na empresa, alguns deixaram o setor alcooleiro em busca de melhores condições. An­­derson Freire Amorin trabalhou durante um ano em uma das usinas da região antes de compor o quadro da BR Frango. Segundo ele, a possibilidade de ganhar mais e o plano de carreira da empresa fo­­ram os principais atrativos na hora de mudar de emprego. “A oportunidade de carreira é melhor. Mui­­tos vieram com esse intuito e ou­­tros amigos da usina estão esperan­­do abrir vaga”, diz Amorin. 

Técnicas da cana auxiliam na tarefa com aves 

A experiência adquirida nas t­­arefas realizadas nos canaviais tem contribuído para que muitos trabalhadores consigam emprego de maneira mais rápida e fácil nos abatedouros. A explicação está no desenvolvimento das habilidades manuais, também necessárias para desossar as aves. Diferente de outras culturas como a soja, o trigo e o milho, onde a colheita é mecanizada, a maior parte da cana ainda é cortada manualmente, o que exige técnica de manuseio do facão. 

Preparo físico 

Outro ponto a favor da mão de obra da cana-de-açúcar que deseja mudar de ramo é a resistência física. Como o trabalho nas la­­vouras pode chegar a 12 horas consecutivas, muitas vezes de­­baixo de sol forte, as pessoas tendem a criar uma condição boa para suportar o trabalho em pé nos abatedouros. 

“O corte braçal da cana exige condição física. Diante disso, sobra energia e a adaptação para o trabalho no frigorífico é mais fácil”, diz Reinaldo Morais, o presidente da BR Frango. “A habilidade manual desenvolvida nos canaviais também conta muito”, complementa. 

Crise da Doux afeta abates em Montenegro e Caxias

Patrícia Comunello
A crise de pagamentos entre produtores e prestadores de serviços e a Doux Frangosul bateu à porta de dois dos três frigoríficos da empresa no Estado. A unidade de frangos de Montenegro, a maior do segmento gaúcho, reduziu ontem um dos três turnos de trabalho. A planta de suínos de Ana Rech, em Caxias do Sul, ficou parada um dia da semana passada. Nos dois casos, a falta de produto impede a operação normal, segundo dirigentes de sindicatos de trabalhadores da indústria de alimentação nas duas regiões. O frigorífico de Passo Fundo não foi afetado. A empresa não se manifestou até o fechamento desta edição.

O Serviço de Inspeção Federal (SIP), ligado ao Ministério da Agricultura e que monitora a atividade nas duas plantas com foco na exportação, confirmou que ocorreu a supressão de um turno em Montenegro e que a unidade caxiense não efetuou abates em um dia da semana passada. O fato teria ocorrido pela segunda vez no mês. Nos dois episódios na Serra, transportadores de suínos suspenderam a entrega devido a atrasos de dois meses no pagamento. Na área de frangos, o enxugamento de turno tem relação com a menor oferta, diz Daniel Galvão Sodré Bilheri, diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Montenegro e região. O frigorífico é o maior empregador, com 1,6 mil dos 2,4 mil empregados no ramo na região.

"Ficaram dois turnos de segunda a sexta, reduzindo de 19 horas para 12 horas de atividade. Eles estão tirando férias normais e devem permanecer neste regime por 20 dias. É uma adequação à falta de matéria-prima", repassou Bilheri, a partir de informações do grupo. O sindicalista informa que a direção não atendeu aos pedidos de reunião para detalhar as medidas. "A empresa é muita fechada, mas os salários, mesmo com as dificuldades, nunca tiveram atraso. Apenas o FGTS deixou de ser recolhido, mas houve parcelamento. Nossa preocupação é grande", admite o dirigente do sindicato dos trabalhadores. A Doux eliminou o turno que se iniciava às 14h55min e se encerrava à 0h35min. O volume de abates estava em 450 mil frangos por dia. A operação ocorria de segunda a sábado e agora se limita aos dias da semana, segundo Bilheri. "Não sabemos se a produção reduzirá no mesmo nível, em um terço."

A planta de Montenegro sofre o efeito do boicote dos 1,5 mil integrados. Parte deles recusa novos lotes de pintos para alojamento desde metade de dezembro passado. A mobilização é liderada pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS) e Associação dos Criadores de Suínos (Acsurs), que soma 700 suinocultores ligados ao grupo. A medida busca pressionar a Doux a reduzir débitos, que completam 140 dias. Repasses que eram esperados na semana passada, e prometidos pela empresa, não teriam sido cumpridos. A empresa informou que teve bloqueio de valores por bancos. Os produtores exigem que a empresa pague dois lotes para voltar a fazer a terminação.

Em Ana Rech, que ainda não registra queda na oferta, prestadores na área de transportes dos animais se rebelaram. Um dos contratados reclama parcelas de agosto, novembro e dezembro. "Paramos para ver se conseguimos algo. A dívida está cada vez maior. Tenho até medo", desabafa o prestador, que tem financiamentos de caminhões para pagar. "Prometeram pagar e não cumpriram. Avisamos que não íamos puxar (transportar). Nunca foi tão ruim como agora." A presidente do sindicato dos trabalhadores da alimentação, Arlete Beatriz Schmitz, opina que o temor é de que os salários dos cerca de 700 empregados possam ser afetados.

O transporte dos funcionários feito pela frota de José Ferreira de Matos poderá ser afetado. Matos tem faturas abertas desde metade de outubro. Seus motoristas estão sem receber. "Prometem pagar esta semana. Já estourou meu limite no banco e nem tributos consigo quitar. Só tem diesel nos ônibus porque o dono do posto me conhece há 30 anos", desespera-se o prestador, que não quer deixar a empresa na mão.

Superintendente do ministério critica posição de integrados

Ao interromper o nível de fornecimento da granja para o frigorífico, produtores de suínos e aves podem colocar em risco a sobrevivência da Doux Frangosul. O alerta é do superintendente do Ministério da Agricultura no Estado, Francisco Signor, que criticou a atitude. “Reduzindo o número de animais alojados, como a empresa vai pagar os integrados e manter a receita?”, questiona Signor. “Ruim com a Doux, pior sem”, avalia o superintendente, que aponta o volume diário de 1 milhão de frangos processados em duas plantas ao dia. Nos suínos, os abates ultrapassam 2,5 mil animais.

No ano passado, relatórios apontam que, apesar da instabilidade no fluxo de pagamentos aos 2,2 mil integrados nos dois segmentos, a operação industrial não foi afetada. A Doux, que é maior agroindústria de frangos em operação no Estado e tem outra unidade em Passo Fundo, processou 240 milhões de aves em 2011, 16% do 1,5 bilhão registrado pelo SIP. A média diária estava em 900 mil abates. Nos suínos, o frigorífico de Ana Rech somou processamento de 715 mil suínos, de um total de 6,7 milhões animais que foram abatidos nas plantas sob inspeção federal.

O executivo do órgão público diz que já fez alerta sobre o impacto da estratégia aos dirigentes das entidades, como Fetag-RS e Acsurs. Signor diz que os integrados não deveriam ter paralisado parte dos alojamentos. Para o superintendente, a empresa precisou eleger prioridades, como pagar a ração que é repassada aos plantéis. O representante do ministério não acredita que houve repasses ilegais de valores para a matriz, na França. Uma investigação foi pedida pelo governo estadual ao Ministério Público do RS (MP-RS), alegando indícios de irregularidades. Dificuldades de caixa teriam relação com limitação de crédito nos bancos, diz. Signor não ignora os problemas gerados ao caixa dos produtores e defende que sejam priorizados pagamentos àqueles cuja renda principal seja oriunda dos contratos com a Doux.

O presidente da Acsurs, Valdecir  Folador, reage e lembra que o “produtor não pode ser culpado”. “Se a situação chegou a este ponto foi culpa da empresa, que causou todo o transtorno, e não do produtor”, arrematou. Folador lembra que os produtores são os pilares da cadeia. Sérgio de Miranda, tesoureiro da Fetag-RS, discorda do superintendente e avisa que os integrados têm autonomia para decidir o que farão. “Eles tentaram as mais diferentes possibilidades de negociação e aguardaram calendários que não foram cumpridos. Quem vem há três anos sofrendo sabe dos riscos que a atual ação pode gerar”, responde Miranda.

Carne argentina em crise

Tem razão o vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira, quando diz que a carne gaúcha das raças britânicas está substituindo nos restaurantes brasileiros a argentina, país em crise graças à política econômica do casal Kirchner. O jornal Clarín deste domingo, citando fontes oficiais, revela que os frigoríficos locais perderam 7 mil postos de trabalho em 2011 e vão perder outros 7 mil em 2012. Acontece que nos últimos dois anos fecharam 120 estabelecimentos, a maioria deles voltada à exportação. A ponta do iceberg teria sido o fechamento do frigorífico Swift de Santa Fé, propriedade do gigante brasileiro JBS, também por problemas na exportação.

Abastecimento interno
Além dos 120 frigoríficos, a Argentina perdeu um estoque de 12,5 milhões de cabeças de gado nos dois anos passados e a produção de carne caiu 30% sobre 2009, segundo o presidente da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes, Miguel Schiaritti. Causas: a seca de 2008-2009 e as políticas do governo desde 2007 para limitar as exportações de carne em favor de preços mais baixos no mercado interno.


Affonso Ritter aritter@via-rs.net

Seca dispara preço da carne nos EUA

Reuters
Gado se alimenta em fazenda do Colorado, EUA.
Os preços do gado subiram a níveis recordes com a seca nas planícies do Sul dos Estados Unidos que está começando a reduzir a oferta de carne bovina no país.
Enfrentando a pior seca desde 1930, pecuaristas de Estados como Texas e Oklahoma reduziram seus rebanhos no ano passado porque não tinham dinheiro para comprar ração e água suficientes para substituir pastos e bebedouros secos. Eles venderam gado jovem para o confinamento, onde os animais são engordados antes de serem abatidos.
O efeito dominó dessas decisões já está sendo sentido no mercado. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos informou na sexta-feira que 1,68 milhão de cabeças de gado foram vendidas para confinamento em dezembro, uma queda de 6% em 12 meses.
"Simplesmente não há gado suficiente para todos", disse John Roberts, diretor de marketing da Pecuaristas de Nebraska, um grupo do setor.
Consumidores de carne já estão assistindo a esse aumento de custos: o preço de varejo da carne bovina subiu mais do que o de qualquer outra categoria de alimentos importantes dos EUA em 2011, em torno de 10%, de acordo com estimativas do Departamento de Agricultura, que equivale, nos EUA, ao Ministério do setor. O departamento espera que os aumentos sejam mais moderados neste ano, em torno de 4,5%.
Os preços da carne bovina estão subindo, em parte, porque o custo de produção da pecuária subiu mais do que o preço do gado, deixando muitos produtores com pouco incentivo para expandir a produção. O preço do milho, o principal alimento do gado no país, mais do que dobrou no ano passado e está 66% mais alto que há dois anos, e os custos do feno também dispararam.
"Os preços do gado terão que subir para que os produtores tenham lucro e decidam expandir", disse David C. Nelson, estrategista mundial do Rabobank, banco holandês que faz financiamentos agrícolas nos EUA.
Menos gado em confinamento geralmente implica em menor oferta de carne no atacado a partir de quatro a seis meses. As preocupações já estão aparecendo em mercados onde os frigoríficos compram animais vivos. Processadores de carne bovina pagaram preços mais altos na semana passada devido às expectativas de que a oferta vá ficar reduzida no segundo trimestre.
Uma forte demanda global também tem contribuído para a alta. A população de países em desenvolvimento, particularmente na Ásia, está aumentando seu consumo de proteína. As exportações de carne bovina dos EUA aumentaram 23% nos primeiros 11 meses de 2011, em comparação com o mesmo período de 2010. Mas embora a demanda por exportações dos EUA esteja forte, a concorrência está aumentando. O Canadá anunciou sexta-feira que sua carne bovina não mais enfrenta restrições de importação pela Coreia do Sul, que havia instituído barreiras nove anos atrás.
É claro que se houver alguma queda na demanda isso poderia reduzir os preços do gado. E alguns analistas alertam que uma alta recorde é difícil de se sustentar nesta época do ano, depois das festas de fim de ano e quando o clima no Hemisfério Norte ainda é frio demais para churrascos no quintal. "Estamos vendo uma desconexão estrutural entre oferta e demanda", disse o economista do Departamento de Agricultura Richard Volpe. "Os estoques estão muito escassos e mesmo assim a demanda está forte."
A seca nas planícies do Sul atingiu o coração da indústria de carne bovina dos EUA. Texas, Oklahoma e Novo México são os Estados mais afetados. Mas outros, como Kansas e Missouri, têm sofrido também.
Os produtores reagiram reduzindo o tamanho de seus rebanhos e mantendo menos novilhas para reprodução. Isso significa que a base da cadeia de abastecimento da carne bovina encolheu, e sua reconstrução vai demorar bem mais de um ano.
(Colaboraram Scott Kilman e Mirmala Menon.)