sábado, 13 de novembro de 2010

Varejo lucra mais com alta da carne bovina

Com preço batendo recorde, frigorífico e produtores acusam supermercados de ficar com maior parte do lucro e forçar aumento de até 106% no produto

CARLOS HENRIQUE BRAGA

A carne bovina poderia estar mais barata nas gôndolas se os supermercados abrissem mão do maior lucro da cadeia produtiva, advertem frigoríficos e produtores rurais. O boi está 52% mais caro na fazenda e 55% no frigorífico, desde o ano passado, mas são as lojas que pisam no acelerador: o varejo aumentou os preços em 106,64%, garante a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) com base em números do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Estudo do Sindicato Rural de Campo Grande mostra que enquanto o lucro bruto do comércio era de 34%, com arroba cotada a R$ 95, há algumas semanas, a margem dos produtores era de 10%, pouco menor que a da indústria, de 15%.
Para o presidente da Abrafrigo, Péricles Salazar, a margem do varejo penaliza consumidores. "Poderia haver consumo maior se os supermercados reduzissem o lucro, mas eles não querem beneficiar a cadeia produtiva", disse o dirigente. Apesar de analistas alardearem tendência de consumo maior, mesmo com preços em ascensão, o presidente da entidade já vê o frango no caminho do boi. "O frango é a primeira opção, o consumidor de estratos de renda mais baixos não vai absorver esses aumentos", analisa Salazar, que completa: "o limite para o preço do boi é o bolso do consumidor".
Supermercados de todos os tamanhos vendem 70% da carne brasileira, e metade desse total sai das lojas das redes internacionais Carrefour e WalMart, e da brasileira Pão de Açúcar, todas com poder de fogo para negociar preço e prazo. Na Capital, elas têm oito unidades, se somadas às bandeiras Atacadão, Maxxi e Extra.
Os números que dão peso ao discurso da indústria e de produtores são uma "pressãozinha" desnecessária da parte deles, já que o lucro do negócio supermercado não passa de 3%, defende o presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados (Amas), Acelino de Souza Cristaldo. "Eu não conheço as margens de outros setores da cadeia, mas conheço bem as minhas, e posso dizer que são baixíssimas, só repassamos os preços que chegam até nós, quem coloca o preço é a lei de mercado", argumenta Cristaldo.