terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Brasil é um dos principais exportadores de carne de cavalo

Apesar dos preconceitos e tabus que envolvem o produto no mercado doméstico, o Brasil é um dos principais exportadores mundiais de carne de cavalo, com vendas externas no valor de US$ 27,7 milhões, em 2008. Mesmo apresentando queda de 13% em relação ao valor fechado um ano antes, o produto brasileiro vem conquistando cada vez mais o mercado europeu. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC), os embarques internacionais da carne de cavalo acumularam alta de 465% desde 1990. Em 2008, o Paraná teve a maior participação nas exportações de carnes, representando 47% ou US$13.209.692 do total exportado. Seguem o Rio Grande do Sul, com 42% (US$ 11.592.807), Minas Gerais com 10% (US$ 2.774.807) e São Paulo com 1,0% (US$ 164.434). 
Os grandes compradores da carne de cavalo brasileira são a França, Itália e Bélgica, países onde o produto é consumido sem reservas, ao contrário do que ocorre no mercado doméstico. Com um alto teor de ferro e menor presença de gordura, a carne de cavalo é ligeiramente mais avermelhada do que a carne bovina e tem paladar mais adocicado. “Quem viaja muito ao exterior pode ter comido a carne de cavalo sem saber. Ela é muito utilizada na confecção de embutidos, ou mesmo servida durante as refeições em receitas tradicionais”, conta o agrônomo Roberto Arruda, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz, da Universidade de São Paulo (USP). No Brasil, a comercialização do produto não é proibida, mas o professor garante que as grandes fabricantes nacionais de salame, salsicha ou mortadela não utilizam a carne de cavalo como ingrediente. “A produção nacional é totalmente vendida no exterior, não teríamos nem escala adequada para atender essas empresas”, afirma Arruda.
Segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o Brasil é dono da segunda maior tropa eqüina do mundo, com 5,9 milhões de cabeças, mas assim como em todos os outros países do mundo, não há cavalos criados exclusivamente para o abate. O animal que vai para o frigorífico é um cavalo que foi criado com outra função, que não a de consumo. “É como na natureza, quando o leão escolhe sempre os mais velhos como preza. Nós só trabalhamos com os animais que estão no fim da vida. Depois de prestar serviços por tampo tempo os animais têm um fim digno”, explica o gerente de comercialização da exportadora Fava, André Luz. Com atuação nesse mercado desde 1961, a empresa vende cerca de 600 toneladas/mês de carne de cavalo e diz trabalhar apenas com frigoríficos que utilizam o sistema de abate humanitário - prática regulada pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA) que garante o bem-estar do animal. “O cavalo comprado para o abate nos frigoríficos recebe um número de registro, é avaliado por um veterinário na hora da compra e posteriormente pelo veterinário do frigorífico que se encarrega de fazer outra bateria de exames”, revela Luz.
Apesar do profissionalismo do setor, o produto ainda está longe da cesta de consumo do consumidor brasileiro. Na opinião do professor Arruda, essa situação persiste por uma série de mitos e mal entendidos que periodicamente surgem para denegrir a carne de cavalo. “Ao contrário do que circula por aí, os animais não são maltratados e a carne de cavalo não transmite mais doenças do que a carne bovina pode transmitir. Não há diferença alguma entre as duas, se ela estiver bem preparada e for de boa procedência, não há perigo algum”, revela. O processo histórico da utilização do cavalo no Brasil também é usado para explicar as diferenças de paladar em relação aos consumidores europeus. “Lá, a domesticação do cavalo se deu em função da alimentação e só depois o homem passou a utilizá-lo como animal de tração e sela”, conta Luz.