quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Frigoríficos projetam aumento dos abates em 2011

Com os primeiros sinais de recomposição do rebanho no Brasil no mês de dezembro, os frigoríficos projetam uma retomada do ciclo de alta nos abates a partir deste ano. "A possibilidade de aumento de produção em 2011 é grande, dado que o estoque de gado aumentou", afirma Eduardo Takeiti, gerente de relações com investidores do frigorífico Minerva.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o abate mensal passou de cerca de 2 milhões de cabeças em maio do ano passado para pouco acima de 1,4 milhão de animais no mês de novembro.


A queda dá sinais de ter chegado ao fim, abrindo espaço também para preços mais baixos do boi gordo. "Para 2011, vemos uma tendência de queda de preços, ainda que a média deva continuar superior à do ano passado", afirma Ricardo Florence, diretor de planejamento e relações com investidores do Marfrig.


Para a empresa, a principal aposta para aumentar a participação no mercado é a aquisição da americana Keystone Foods, o que deve render sinergias de US$ 100 milhões até 2013. A estratégia é usar a Keystone para exportação de carne, já que é uma das principais fornecedoras do McDonald's. De acordo com a Marfrig, a parceria com a Keystone gera a expectativa de fornecer uma boa parte da produção para o restaurante. "Com dados pro forma [estimativa de integração das duas companhias], esperamos mais de 30% das vendas da empresa somente para o McDonald's ".


Para o Minerva, a perspectiva de aumento de produção é positiva. Com menor porte e sem contar com as grandes aquisições internacionais como Marfrig e JBS, a tática é aproveitar a força do mercado interno para elevar o uso da capacidade nas plantas e reduzir os custos fixos. "A capacidade instalada do grupo hoje está em 9.840 cabeças por dia. A projeção para atingir plena capacidade é o final deste ano", diz Takeiti.


No setor de processados, o Minerva também tem sinergias a colher com a recente aquisição do controle da joint venture Minerva Dawn Farms. "Acreditamos que a demanda do segmento food service, principal foco da empresa, continuará bastante aquecida", disse Takeiti.


Para o Marfrig, a queda nos abates deste ano não foi negativa. Além de se voltar para o mercado internacional, aproveitou para aumentar sua participação no mercado interno, que atingiu 14% do abate nacional no terceiro trimestre do ano passado. Contribuiu para o crescimento a aquisição e arrendamento de fábricas. Do início de 2009 até o terceiro trimestre de 2010 os abates do frigorífico cresceram 167%, enquanto no país a alta foi de apenas 9%."Este crescimento nos bovinos foi conseguido com programas de fomento, criação e confinamento próprio", afirmou o presidente Marcos Molina.

Nem todas as empresas podem arcar com esses programas. "O confinamento próprio dos frigoríficos tem capacidade para 400 mil cabeças, mas em 2010 ficou muito abaixo", calcula Bruno Andrade, zootecnista da Associação Nacional de Confinadores (Assocon).


As razões são muitas. O alto custo de produção intensiva - muito acima do custo do boi de pasto - além do tempo de três meses necessário para a engorda do boi elevam a necessidade de capital de giro para a atividade. "Nos bovinos, o confinamento é uma operação muito mais longa e cara que nos frangos", diz Molina.


A queda nos números de abate também se refletiu nas exportações. O volume vendido ao exterior deve apresentar queda de 15% em 2010, recuo que se reflete nos principais mercados compradores: Europa, Rússia e Ásia.


Para a Europa, as exportações não dão sinais de mudanças em 2011. "A crise na Europa está longe de ter terminado", afirmou Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Com a pressão dos pecuaristas europeus, sobretudo da Inglaterra e da Irlanda, as autoridades da região não reduzem as exigências à carne brasileira, ainda que o consumidor esteja pagando mais pelo produto.


"Não esperamos nenhum aumento de vendas para a Europa", diz o CEO da Seara, Mayr Bonassi. "Estão estagnados e têm produção própria". O Oriente Médio é a principal alternativa: a receita de exportações para a região aumentou 94%, passando de US$ 617,8 milhões de janeiro a novembro de 2009 para US$ 1,2 bilhão neste ano.


O processo de retomada das exportações aos Estados Unidos, fechada desde maio passado, deve impulsionar o comércio exterior. Em 2009, as vendas aos americanos renderam US$ 223,1 milhões, atingindo 43,2 mil toneladas - eram os maiores compradores de carne industrializada do país.


A matéria é de Felipe Peroni, publicada no jornal Brasil Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.