quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O empurrão que a ovinocultura precisava

A criação de ovinos voltou a chamar a atenção dos fazendeiros gaúchos – o preço do quilo vivo que, historicamente, era de R$ 1,90 ou pouco mais, próximo do quilo do boi, nesta primavera chegou a R$ 8,00, quase três vezes o preço do boi, diante da falta de animais para atender a uma extraordinária demanda pela carne, que entrou na moda, e pela diminuição da oferta internacional. Mas, com a crise da lã, que diminuiu o rebanho gaúcho de 13 milhões de cabeças para apenas 3 milhões, a cadeia produtiva, de comercialização e de abate se desestruturou. Também as cidades chegaram mais perto do campo, levando problemas urbanos para as áreas rurais, o que tornou a criação de ovinos diferente da que se fazia há 20 ou 30 anos. Muita coisa precisa ser mudada para que ela volte a crescer.
Ovinos - abate garantido

Uma tentativa importante está sendo feita pelo frigorífico Marfrig com o objetivo de desenvolver a ovinocultura nas regiões Sul e Central, através de novas tecnologias de produção e cruzamentos e garantia de comercialização e abate. A intenção é aumentar a qualidade dos animais. Tanto no Brasil Central quanto no Rio Grande do Sul, o projeto começou em 2009. O primeiro passo foi inaugurar um frigorífico de ovinos, em Promissão (SP), com capacidade de 1.000 abates/dia, que recebe animais de SP, MS, MT, GO, PR e MG, e dois confinamentos, em Getulina e Marilia (SP), com capacidade estática de 1.000 cordeiros.
Ovinos - excelentes mães

A primera é um composto terminal formado pelas raças suffolk, white suffolk e pool dorset, com características de rápido ganho de peso, alto rendimento frigorífico e excelente qualidade de carcaça. A highlander é um composto materno, formado pelas raças texel, finn e romney, cujas características são precocidade reprodutiva, alta prolificidade, excelente habilidade materna e produção de lã de qualidade. Ambas chegam a produzir até três cordeiros por parto, mas isso não é recomendável pela falta de alimento aos recém-nascidos.

Ovinos - Com confinamento
MARFRIG/DIVULGAÇÃO/JC
Highlander, um composto de texel, finn e romney
Highlander, um composto de texel, finn e romney                                               

No Rio Grande do Sul, o Marfrig arrendou os frigoríficos de ovinos de Mato Leitão, Alegrete e Capão do Leão I, do Grupo Mercosul, com capacidade de abate de 3.500 animais/dia. Paralelamente, foi instalado um confinamento de 5.000 animais, já sendo estruturado para abrigar 20.000 animais. A terminação é feita em regime de parceria, com o produtor tendo a opção de venda dos animais tanto terminados quanto magros, garantindo a comercialização, inclusive para os pequenos produtores, pois o frigorífico compra qualquer quantidade, sem preenchimento de cotas.
Ovinos - 9 mil cordeiros por semana
A primera, mais produtora de carne, é ideal para cruzamento terminal com qualquer outra raça com o objetivo de obter cordeiros, tanto machos quanto fêmeas, destinados ao abate. A highlander é ideal para cruzamentos absorventes, selecionado-se as melhores fêmeas para futuras matrizes e abatendo as demais e todos os machos para carne. A meta dos programas do Marfrig é produzir 4.000 mil cordeiros por semana na unidade de Promissão e 5.000 cordeiros por semana, no Rio Grande do Sul, para abastecer  Alegrete e Capão do Leão I. A dúvida é a questão dos preços a serem pagos pelos cordeiros.
Ovinos - primera e highlander

Diego Alagia Brasil, gerente de Fomento do MFB Marfrig Frigoríficos S.A., informa que o grupo quer melhorar a produção levando ao produtor informações sobre técnicas de produção, eficiência, produtividade, sustentabilidade e mercado, uma troca de experiências entre campo, indústria e consumidor. Qualquer produtor pode participar. Diante da crise da ovinocultura nos últimos 50 anos, o Marfrig sabe que terá um longo trabalho pela frente, inclusive ajudando na seleção e melhoramento genético. Atualmente, o projeto trabalha com duas raças relativamente novas no Brasil, a primera e a highlander, ambas chamadas “compostas”.
Divisão vinífera

Um dos aspectos que mais prejudicou a vitivinicultura gaúcha foram as brigas e disputas inter-regionais e até intervicinais que existiam nos anos 50, 60, 70 e 80 do século passado na região produtora italiana. Hoje, quando o vinho brasileiro (gaúcho) ganha os mercados nacional e internacionais, pelo aumento de qualidade, e as exportações de vinhos não são mais apenas um sonho, acreditava-se que o passado de desentendimentos e rivalidades estava sepultado. Parece que não. Bento Gonçalves, que sempre teve o comando do Sindicato do Vinho (Sindivinho), um dos mais antigos do estado, vem desde 1928, perdeu, em 2007, a presidência, para Cristiane Passarin, de Flores da Cunha, e não se conformou muito.


O Dia