segunda-feira, 30 de agosto de 2010

JBS: concentração não prejudica produtor

O presidente da JBS, Joesley Batista, disse, na sexta-feira, que a concentração do setor de frigoríficos de carne bovina no Brasil não prejudica o produtor de gado. Pelo contrário. A uma plateia de estudantes, representantes do agronegócio e consultores, em seminário do Pensa, na Universidade de São Paulo (USP), Batista afirmou que a concentração permite que as empresas do setor cresçam, o que vai "beneficiar o produtor".

De acordo com o presidente da JBS, "quanto mais o setor se concentrou no Brasil, mais o preço do boi subiu". Ele disse que há alguns anos, a arroba do boi gordo estava na casa dos US$ 20 no Brasil. Atualmente, já supera os US$ 50.

Essa mudança de patamar é, segundo ele, um reflexo da internacionalização e da concentração no setor de frigoríficos. "Antes, quando havia um monte de pequenos [frigoríficos] se debatendo, só se vendia barato ao exterior. Isso mudou". No novo cenário, disse, é possível vender carne com preços mais altos ao exterior e, assim, pagar mais pelo boi ao pecuarista.

Após a aquisição de várias empresas no exterior, a JBS detém hoje 30% do comércio internacional de carne bovina e 50% das exportações brasileiras do segmento, segundo Batista.

Conforme o empresário, "a internacionalização mais do que dobrou o preço do boi". Em sua opinião, "não é só o câmbio" que explica a elevação dos preços da arroba em dólar. "O câmbio é só um dos fatores", argumentou.

Rui Prado, presidente da Federação de Agricultura de Mato Grosso (Famato), que esteve no seminário, afirmou que a concentração preocupa os criadores do Estado, onde apenas duas empresas - JBS e Marfrig - têm 60% do abate.

Outra questão do encontro, em que Joesley Batista falou sobre a gestão da JBS, foi o desafio de digerir todas as aquisições feitas pela companhia e implantar a cultura da empresa nesses locais. O caso da Inalca JBS, na qual a brasileira vive uma disputa judicial com o sócio, foi mencionado. "Na Itália, temos que ter pessoas tão competentes quanto eu ou mais", disse. A JBS entrou na Câmara de Comércio Internacional de Paris contra o grupo Cremonini, pedindo a arbitragem sobre questões de governança. Batista não comentou o processo.

Argentina

A JBS S.A admitiu, em nota ontem, que pode vender "algumas unidades de produção" na Argentina por conta da atual escassez de bois para abate e da restrição às exportações de carne bovina pelo país. No sábado, a agência Reuters noticiou que a maior processadora global de carne bovina poderia vender três plantas de abate de gado na Argentina. A informação foi dada à Reuters por uma fonte que pediu anonimato.

Segundo essa fonte, a informação de que a JBS poderia se desfazer de unidades na Argentina foi dada pelo secretário de Comércio Interior argentino, Guillermo Moreno, durante uma reunião que teve na última sexta-feira com diretores dos principais frigoríficos de carne bovina do país.

Na nota divulgada ontem, após ser procurada no Brasil, a JBS disse que "devido à atual situação na Argentina (escassez da disponibilidade de gado e restrição das exportações), a companhia estuda reduzir a produção nesse país, ou até, a possível venda de algumas unidades de produção desde que o valor negociado reflita o preço real do ativo".

Segundo a Reuters, atualmente, as instalações da JBS na Argentina que poderiam ser vendidas, situadas em Pontevedra, Berazategui e San José, estão trabalhando de forma parcial, por conta da redução da oferta de bovinos para abate. Esse quadro de falta de animais provocou uma alta no preço da carne bovina e fez o governo limitar as exportações do produto.

Diversos frigoríficos atravessam dificuldades pelo recuo nas atividades e travam uma queda-de-braço com o governo argentino. Os produtores rurais responsabilizam as intervenções oficiais no mercado da carne bovina pela queda do rebanho. As prolongadas secas que o país viveu nos últimos anos também foram muito prejudiciais ao setor, observa a Reuters.

A matéria é de Alda do Amaral Rocha, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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