terça-feira, 1 de junho de 2010

Restrição à carne pode ser retaliação política

Autoridades bloquearam 40 toneladas do produto após identificação de vermífugo

Restrição à carne brasileira nos Estados Unidos pode ser retaliação pelo posicionamento do país na questão do programa nuclear do Irã. A suspeita foi levantada por representantes do agronegócio, mas associação brasileira de frigoríficos afirma que o incidente é meramente técnico.
O Ministério da Agricultura brasileiro decidiu suspender as exportações de carne para os Estados Unidos desde a sexta-feira passada. A medida foi adotada após pedido do governo norte-americano para o recall de carne bovina processada e produzida pelo frigorífico JBS-Friboi.
Autoridades bloquearam 40 toneladas do produto depois de identificar a presença de um vermífugo acima do permitido. O governo brasileiro alega que há discrepância nas metodologias utilizadas entre os dois países para analisar a carne e a presença de agentes químicos.
Por isso, uma missão do Ministério da Agricultura vai a Washington na semana que vem para tentar harmonizar os procedimentos técnicos. Enquanto o entendimento não ocorre, o Brasil decidiu interromper a venda de carne aos Estados Unidos para evitar danos maiores aos negócios do país.
Em entrevista ao repórter Ulisses Neto, o presidente da Sociedade Rural Brasileira Cesário Ramalho, mostrou-se preocupado com a possibilidade de uma retaliação política dos norte-americanos. O presidente da Sociedade Rural Brasileira lembra que os norte-americanos mudaram sua metodologia de análise repentinamente. “O que me preocupa mais nessa história toda, é que este seja o início de uma retaliação política”.
Sem citar especificamente o caso da carne brasileira, o embaixador Rubens Ricupero já tinha levantado a hipótese de retaliação comercial norte-americana. Ele destacou que há vários setores que podem se aproveitar do caso iraniano.
Os produtores de carne brasileiros ressaltam que foram pegos de surpresa pela mudança de metodologia dos Estados Unidos na análise da carne. No entanto, apontam que as divergências com os norte-americanos são meramente técnicas.
O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos, Péricles Salazar, garante que não há disputa política nessa questão. Mesmo assim, Salazar afirma que os produtores brasileiros não foram comunicados sobre as mudanças de procedimentos e não puderam se adequar. “Não acredito em uma retaliação política. O brasil tem uma sólida relação politica e comercial com os norte-americanos”.
Roberto Segatto, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior, também rechaçou a possibilidade de retaliação política por parte dos Estados Unidos. Segatto apostou que haverá uma solução negociada entre os dois países.
Especialistas aplaudiram a medida do ministério de vetar as exportações e lembram que atitudes semelhantes já foram adotadas no passado. Eles ressaltam que ao suspender as vendas, o governo brasileiro terá a prerrogativa de retomá-las quando considerar viável. Além disso, a carne processada que é vendida aos Estados Unidos tem pouco peso na conta dos exportadores brasileiros.