quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Situação do Frigorífico Diplomata segue preocupando a população da fronteira

Adolfo Pegoraro


Todos os municípios da região da fronteira com a Argentina estão preocupados com a situação do Frigorífico Diplomata, de Capanema, que possui hoje cerca de 1.100 funcionários, recebe aves de quase 500 agricultores e conta com os serviços de cerca de 60 caminhões para o transporte animal e de ração. A empresa tem uma dívida de aproximadamente R$ 455 milhões, quase o dobro da avaliação de seu patrimônio. Depois de passar o ano de 2012 capengando, a Diplomata encontra-se em processo de recuperação judicial, ou seja, tenta contornar a crise para evitar de fechar as portas. No dia 20 de dezembro, todos os funcionários vão ganhar férias coletivas. Algumas pessoas têm medo de que a empresa nem volte a funcionar depois disso.

Divulgação
A relação da indústria com os funcionários e conveniados não está mais muito boa. Segundo o Sindicato da Alimentação, várias pessoas já mudaram de emprego, devido à falta de segurança que a empresa oferece aos seus colaboradores. "De uns dois anos para cá, a empresa já perdeu quase 300 funcionários. Isso que a rotatividade é muito grande, mas as pessoas estão evitando trabalhar na Diplomata. O que a gente sabe é o que os funcionários nos contam quando vêm pedir alguma orientação", comenta Claudimir Orsolin, vice-presidente do Sindicato da Alimentação de Francisco Beltrão e região. Ele trabalha na sub-sede de Capanema.
Os avicultores também estão sentindo o baque e muitos já trocaram de frigorífico. Segundo o presidente do Sindicato dos Avicultores de Realeza, Pedro Luis Dalla Costa, de 60 fornecedores da Diplomata no município, sobraram apenas 20. "E se continuar assim, não vai sobrar mais nenhum. A situação está complicada, todo mundo está trabalhando no vermelho. A ração demora a chegar e, quando chega, já é quase tarde. As aves estão sentindo, acabam ficando na metade do peso em que deveriam estar", reclama o avicultor. "Nosso último lote teve 19 mil aves e ainda não conseguimos receber. Está difícil de lidar com essa situação. A gente tem que economizar a ração para manter as aves vivas. Uma situação que faz com que a gente pense se segue ou não com essa atividade", complementa Hélio Vaz, avicultor de Capanema.

Manifesto dos avicultores
Na última segunda-feira, dia 19, os avicultores que fornecem frangos e perus para a Diplomata fizeram um manifesto em frente à empresa. Eles chegaram a trancar os portões para impedir o funcionamento da indústria. Mas logo entraram em negociações com a diretoria e ficaram acampados, segurando faixas de protesto, em frente à Diplomata. Eles pediram R$ 460 mil na semana que passou e conseguiram. A empresa disse que podia pagar apenas R$ 100 mil por dia e conseguiu cumprir com o prometido. "A gente fica um pouco mais aliviado de ter conseguido receber parte do que perdemos. Na semana que vem vamos conversar novamente para conseguir o dinheiro dos lotes que começaram do dia 16 de novembro para cá. É algo em torno de R$ 500 mil. Se precisar, vamos fazer mais um manifesto", afirma o presidente da Associação dos Avicultores de Capanema, Dari Possatto.

Motoristas também protestam
Há cerca de 60 caminhões transportando aves e ração para a Diplomata de Capanema. E os motoristas chegaram a fazer protesto no início da semana também. Mas logo que saiu a primeira reunião, voltaram ao trabalho. "Eu sou peão, meu patrão é o dono do caminhão e negocia com a empresa. Ele não está recebendo tudo o que investiu, mas o meu salário está em dia. Se ele pedir para eu trabalhar, eu vou obedecer. Mas a situação está ficando crítica para eles", comenta um dos motoristas que estava em horário de folga e não quis se identificar.

Empresa pouco se manifesta
A Diplomata pertence ao deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB). Mas até o momento, a direção pouco se manifestou em relação à situação complicada. Em nota divulgada recentemente, a empresa afirma que o abate segue até a retirada das dez milhões de aves do campo e, quando concluída, os cinco mil funcionários das plantas de Capanema e Xaxim (SC) entrarão em férias coletivas.
A empresa segue em processo de recuperação judicial. Em outubro foi entregue o plano que apontava alternativas para retirar o frigorífico do vermelho. Segundo o advogado da Diplomata, Fábio Forti, a paralisação não interfere no andamento do processo. "O plano de negócio continua normalmente", afirmou, em entrevista à Gazeta do Povo, que também está acompanhando o caso com reportagens frequentes.

Comércio também sente dificuldades
Segundo o presidente da Cacispar (Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Sudoeste do Paraná), Vanderlei Copini, de Planalto, a situação da Diplomata está afetando todos os setores da região. "A gente fica triste com essa situação, pois esses funcionários e avicultores acabam movimentando a economia da região. Tem casos de alguns colegas de venda de móveis, por exemplo, que tiveram que pegar de volta as mercadorias porque os clientes não iam ter condições de pagar. Eles têm a comprovação da renda, mas não têm o pagamento do salário efetivo. Isso traz prejuízos muito grandes em todos os setores", avalia.

Fonte: Jornal de Beltrão