quarta-feira, 21 de julho de 2010

Banco, que já detém cerca de 14% do frigorífico, pode subscrever sozinho a emissão de debêntures que o frigorífico fará para a compra da americana Keystone Foods Irany Tereza e Glauber Gonçalves, de O Estado de S. Paulo RIO - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prepara uma nova investida em sua estratégia de formar frigoríficos transnacionais brasileiros. Terça-feira, o frigorífico Marfrig informou que o banco se comprometeu a subscrever integralmente uma operação de emissão de debêntures de R$ 2,5 bilhões da empresa. Os recursos serão usados para financiar a compra do grupo americano Keystone Foods LLC e da O’Kane Poultry, produtora de carne de aves na Irlanda do Norte. A subscrição deve ser feita por meio da BNDESPar, empresa de participações do banco estatal. A direção do banco confirmou, por meio da assessoria de imprensa, a disposição de adquirir 100% da oferta caso o mercado não subscreva os papéis. Foi o que ocorreu em fevereiro, quando o JBS Friboi concluiu a oferta de debêntures para viabilizar a compra da americana Pilgrim’s Pride. Diante da ausência de investidores privados, o BNDES cumpriu a garantia dada meses antes e participou com R$ 3,476 bilhões na aquisição de 99,92% das debêntures lançadas. A data do lançamento das debêntures ainda não foi definida, mas o prazo para a sua conversão em ações deve chegar a cinco anos. Extraoficialmente, uma fonte do BNDES disse que o banco pretende contribuir para elevar três grupos frigoríficos nacionais ao topo do ranking mundial, ficando entre as sete ou oito maiores companhias. Além de JBS e Marfrig, a terceira aposta é a Brasil Foods, resultado da fusão entre Sadia e Perdigão. O movimento do BNDES é avaliado como contraditório pelo presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. "Recentemente, o frigorífico Frialto se dirigiu ao banco com pedido de recuperação judicial e a informação que obteve é de que os recursos para o setor estavam esgotados." Ele alega que a entidade não é contrária ao apoio dado ao Marfrig, mas defende um maior apoio do banco aos pequenos e médios do setor. "Se o BNDES pode apoiar o grupo Marfrig, por que também não pode apoiar outros que apresentam garantias reais?", questiona. O banco divulga que tem interesse em transformar abatedouros em grandes indústrias globais. No grupo JBS, que recentemente incorporou o Bertin, o banco de fomento detém 20% de participação acionária; no Marfrig a parcela é de 13,89%. Bom negócio De acordo com uma fonte ligada à operação, o BNDES considera a possibilidade de converter as debêntures em ações ao fim do prazo como um bom negócio, já que aposta na valorização do ativo. "É uma boa oportunidade de compra para a BNDESPar", diz a fonte, que lembra que esse tipo de operação é feito com recursos captados pelo banco no mercado, não com os aportes do Tesouro e nem com dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que compõem a maior parcela de seu funding. A ideia no BNDES é que essas empresas só podem ser robustas quando concluírem o processo de internacionalização. Mas os técnicos do banco admitem que o fato de o mercado não acompanhar essas operações deve-se ao risco embutido nas subscrições. "O BNDES assume esse risco", diz uma fonte, citando outros setores, como petroquímica e papel e celulose, que figuram entre as prioridades do banco. A corretora XP Investimentos avalia que o governo está aumentando sua participação no setor de alimentos porque essa indústria é estratégica para o País, uma vez que influencia diversos setores da economia e é um dos que mais emprega.

De São Paulo - Os três maiores frigoríficos do Brasil - JBS/Bertin, Marfrig e Minerva - anunciaram que deixaram de comprar bovinos de 221 fazendas localizadas dentro de terras indígenas, unidades de conservação ou próximas a áreas recém-desmatadas no bioma Amazônia.

A ação é resultado do compromisso assinado, em outubro passado, pelos frigoríficos com o Greenpeace e o Ministério Público Federal do Pará e do Mato Grosso: cadastrar e mapear por satélite as fazendas de seus fornecedores diretos. Dessa forma, os frigoríficos estariam aptos a não comprar mais animais oriundos de áreas de proteção ou recém-desmatadas.

De acordo com informações prestadas pelos três frigoríficos à organização ambientalista, além das propriedades embargadas há ainda outras 1.787 propriedades estão em estado de "verificação". Isso porque elas estão localizadas em um raio de até 10 quilômetros de áreas desmatadas ou protegidas por lei. As empresas declararam também ter o ponto georeferenciado de mais de 12.500 fazendas, número que, segundo elas, representa 100% da cadeia de fornecedores diretos da região.

"Desde a assinatura do acordo passamos a trabalhar mais fortemente em sustentabilidade. E fazemos isso porque a sociedade quer. Nós temos de nos adaptar à nova realidade", diz Marco Bortolon, presidente da Divisão de Carnes Mercosul do JBS, que abate cerca de 30 mil cabeças de boi por dia.

A empresa investiu no mapeamento de pelo menos um ponto georreferenciado de todas as 9.813 propriedades que fornecem gado bovino ao grupo na Amazônia. Segundo Bortolon, 31 fazendas tiveram o fornecimento interrompido - o que representa um volume inexpressivo de carne para o JBS. Elas estão localizadas em áreas protegidas nos Estados de Rondônia, Acre, Pará e Mato Grosso.

Em nota, a Marfrig Alimentos informou nesta terça-feira (20) que suspendeu o fornecimento de gado de 170 fazendas pecuárias localizadas no bioma Amazônia a pelo menos 1 quilômetro de novos pontos de desmatamento. O grupo tem cinco unidades industriais na região - duas em Mato Grosso e três em Rondônia - e adquire cerca de 7% do gado criado no bioma.

Os ambientalistas alertam, no entanto, que para que o estancamento do desmatamento na Amazônia ocorra de forma eficaz e transparente, é indispensável a realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ele prevê o georreferenciamento total da propriedade rural e, assim, possibilita a identificação precisa de fornecedores.

JBS, Marfrig e Minerva responderam por 36% do abate na Amazônia em 2009, segundo o Greenpeace. "O restante vem de pequenos, médios e grandes frigoríficos que até agora não assumiram compromisso com o desmatamento zero e vendem seus produtos para o consumidor por meio de supermercados que não limparam suas prateleiras de passivos ambientais e sociais", diz a ONG.

"Na segunda fase, vamos olhar também para os supermercados e os outros frigoríficos que não participaram do acordo", diz Márcio Astrini, da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil. Com isso, a organização ambientalista pretende forçar práticas sustentáveis na cadeia inteira, e não somente nos signatários do compromisso.(BB)