sexta-feira, 15 de julho de 2011

Como 7 grandes fusões afetaram os brasileiros

Nascimento da Brasil Foods suprimirá marcas e pode trazer aumento de preços

AFP / Mauricio Lima
Perdigão

Sadia e Perdigão: o nascimento da Brasil Foods
Após a recente aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) à fusão entre as duas gigantes dos alimentos, formou-se uma empresa com gordas participações em diversos mercados – 90% nos segmentos de lasanhas e festas de fim de ano e 70% nos de presuntos e pizzas prontas, só para citar alguns.
O temor imediato é que uma empresa desse porte, com pouquíssima concorrência, aumente os preços a seu bel-prazer, prejudicando o consumidor que nada tem a ver com a história. Em casos como esse, em que a líder de mercado não tem um concorrente à altura, o Cade procura criar mecanismos para permitir que novos concorrentes entrem no mercado. Mas nem sempre esses mecanismos são realmente efetivos.
Uma das medidas adotadas pelo Cade vai, de cara, afetar o consumidor: trata-se da suspensão das marcas Perdigão e Batavo em alguns segmentos. Então, não estranhe se não encontrar mais o presunto Perdigão no supermercado. Os produtos dessa marca vão desaparecer das prateleiras por três anos nos segmentos de presuntos, apresuntados, kits de festas suínos (pernil, tender etc.), linguiça e paio; quatro anos no segmento de salames ; e cinco anos nos segmentos de lasanhas, pizzas congeladas, almôndegas, kibes e frios saudáveis.
A Batavo desapareceria apenas do mercado de processados de carne, por quatro anos. Além disso, a Brasil Foods não poderá lançar nenhuma marca para entrar no lugar das que foram suspensas ou dos mercados em que a Sadia tiver concentração. Em tese, essa medida permitiria a entrada de novos competidores para ocupar o vácuo deixado por essas marcas. Na prática, muitos consumidores devem perder suas marcas favoritas e serão obrigados a migrar para outras.
“Toda intervenção tem algum tipo de custo. Nesse caso, tirar as marcas pode causar um dano menor ao consumidor, em prol do benefício da entrada de uma nova empresa”, interpreta Elizabeth Farina, ex-presidente do Cade e professora da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP).
Outra medida tomada pelo Cade foi a de obrigar a nova empresa a vender uma série de ativos para “criar” um concorrente para si mesmo. A partir do ano que vem, serão vendidas fábricas, centros de distribuição, abatedouros e marcas como Resende, Wilson, Fiesta, Confiança, Doriana e Escolha Saudável, de preferência para uma única empresa.
Esses ativos equivalem a 80% da capacidade da Perdigão hoje. A dúvida que fica é se eles serão suficientes para atender à demanda que vai ficar órfã da Perdigão de da Batavo nos mercados em que essas duas forem suspensas. A nova concorrente teria cerca de 20% do mercado total, mas nada na decisão do CADE comprovava que fosse viável concorrer à altura após a aquisição dos ativos alienados.
Se a empresa que arrematar esses ativos de fato não conseguir concorrer por falta de capacidade, os preços vão subir de qualquer maneira. Num caso como esse, dizem especialistas, é importante não só preservar o espaço para a concorrência crescer como verificar se existem concorrentes capazes de tomar o espaço deixado. Para isso, o CADE precisaria ter verificado a real viabilidade da operação desse novo concorrente. Se não, o líder estará sozinho para fazer o que bem entender.
A conferir. Mas a julgar pelas empresas interessadas no espólio da Brasil Foods – nomes como JBS e Marfrig – é possível que o novo concorrente tenha porte suficiente para entrar com tudo. As mudanças, porém, só vão ocorrer depois que as exigências do CADE forem cumpridas, o que só deve acontecer no ano que vem.

Adaptado pelo Boinorio da reportagem de

Julia Wiltgen

Júlia Wiltgen é repórter de finanças pessoais de EXAME.com.
Seu e-mail é julia.wccosta@abril.com.br