quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Por que a carne não para de subir

Explicação para o novo vilão da inflação inclui uma seca na Rússia e o mercado internacional

Quem diria, mas a estiagem na Rússia e o fato de a China voltar a comprar milho no mercado internacional são responsáveis pela inflação da carne na mesa dos catarinenses.

Para o consumidor final, alguns cortes de carne bovina estão 20% mais caros, em média, enquanto as carnes de frango e suíno aumentaram até 25%. E o pior da notícia vem agora: os preços devem continuar subindo e não há previsão deles recuarem, a não ser na próxima safra. Ou seja, somente em 2011.

A carne bovina sofre efeito da crise do setor, que abalou a produção desde o ano passado e agora há menos abate. Mas a seca nas regiões Centro-Oeste e Norte do país também contribuiu para faltar boi gordo para os frigoríficos. Segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), o aumento no consumo interno de carne bovina forçou a alta nos preços por causa da dificuldade de comprar boi gordo, o que acaba elevando o custo operacional dos frigoríficos.

Em valores nominais, o preço atual do traseiro (carne de primeira) bateu o recorde de R$ 7,50 o quilo para os frigoríficos, conforme levantamento realizado pela Scot Consultoria.

Além da falta de matéria-prima e o maior consumo interno, as exportações têm ajudado a escoar a produção. A Abrafrigo não descarta novos reajustes até o final do ano, mesmo com a saída de animais de confinamento, porque os preços da arroba da carne também têm subido. Além disso, no final do ano cresce o consumo de carne no país.

– A carne bovina deve ser mais valorizada, e não há previsão de os preços baixarem a não ser na próxima safra. Suínos e frangos já subiram 25% – alerta o secretário estadual de Agricultura, Enori Barbieri.

Segundo ele, houve redução da produção de carne bovina e, com menos produto no mercado, o preço subiu pela lei da oferta e demanda.

– O consumidor foi escolher outras carnes e puxou também o reajuste do frango e do suíno. Nestes dois casos, o preço também subiu porque 75% do custo de produção destes animais depende de milho e soja presentes nas rações, e a cotação destes grãos sofreu um aumento significativo no mercado internacional.

Carne e frango devem continuar subindo

Dois fafores explicam o cenário de alta, diz Barbieri: a seca na Rússia, um dos grandes produtores agrícolas mundiais, e a China, que, embora não costume importar milho, comprou 1,5 milhão de toneladas dos EUA, desequilibrando o mercado.

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), Antonio Evaldo Comune, afirma que a carne bovina deverá manter o posto de maior vilão da inflação em outubro. Outro item que subiu bastante no mês passado e permanece com tendência de alta é o frango, observa o coordenador do IPC. Em setembro, o item subiu 7,02%, contra os 3,40% registrados em agosto.

Além do maior preço dos insumos, o preço do frango também sofre influência das exportações catarinenses em 2010, que cresceram 20% em relação a 2009, deixando menos produto no mercado interno. Para o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes (Sindicarnes) de SC, Ricardo Gouveia, o frango mais caro está ligado diretamente ao milho.

– A saca de milho estava entre R$ 14 e R$ 15. Agora, está em R$ 26.

simone.kafruni@diario.com.br
SIMONE KAFRUNI