sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Com mercado brasileiro forte, setor de suínos reduz exportações

SÃO PAULO (Reuters) - O brasileiro nunca comeu tanta carne suína como em 2010, no embalo do crescimento da renda da população, e as indústrias só exportaram o produto quando valia mais a pena do que vendê-lo no mercado doméstico, o que resultará numa queda no volume exportado este ano.

A receita com as vendas externas, por outro lado, fechará 2010 em alta de mais de 10 por cento na comparação com 2009, para algo em torno de 1,37 bilhão de dólares, com preços melhores no mercado internacional do que no ano passado, informou nesta quinta-feira a Abipecs, entidade que representa os produtores e exportadores de carne suína do país.

O Brasil, quarto exportador mundial de cortes suínos, consumirá em 2010 mais de 80 por cento da produção total, de 3,23 milhões de toneladas, com o consumo per capita subindo 4 por cento ante 2009, para 14,8 kg por habitante.

"Diminuiu o volume (exportado) porque o brasileiro comeu mais... Hoje, o Brasil só exporta se tiver preço bom", declarou o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, em evento com jornalistas para realizar um balanço do ano do setor.

As exportações do país deverão cair mais de 7 por cento para aproximadamente 560 mil toneladas em 2010, na comparação com o ano passado, uma redução no volume que por ora não preocupa a indústria, fortemente focada no brilhante mercado doméstico, onde o crescimento da produção ficou abaixo do aumento do consumo.

PRÓXIMO ANO

Para 2011, Camargo Neto prevê um quadro semelhante para o setor, com o consumo interno crescente. Mas o volume exportado deverá se recuperar, após o Brasil perder este ano parte do mercado da Rússia (principal importadora do Brasil) para Estados Unidos e União Europeia, que ofereceram um produto mais competitivo.

Camargo Neto avalia que o país deverá elevar suas exportações para algo em torno de 600 mil toneladas em 2011, próximo de um volume registrado nos últimos anos, mas a receita exportada tende a subir, acompanhando a alta nos preços dos grãos, matéria-prima para a produção de carnes.

"O preço deve ficar estável, mas com viés de alta, a receita pode melhorar", declarou ele, ponderando, entretanto, que os resultados das companhias podem não ser tão bons como neste ano, por margens mais apertadas decorrentes da alta das commodities.

NOVOS MERCADOS

"Se continuar só com Rússia, continua no que está aí", declarou o executivo ao comentar a previsão para exportações em 2011.

Mas o setor acredita que a Coreia do Sul, terceiro importador global de carne suína, poderá finalmente abrir o seu mercado para a carne brasileira, especialmente depois de os Estados Unidos terem liberado recentemente o Estado de Santa Catarina, livre de aftosa sem vacinação, para exportar aos norte-americanos.

Segundo ele, o processo para liberação da carne brasileira pela China, que compraria também o produto de outros importantes produtores, além de Santa Catarina, está mais adiantado que o da Coreia. Mas ele avaliou que o caminho de liberação pelos chineses é mais incerto do que aquele trilhado pelos coreanos.

No caso da Coreia, o setor espera a vinda de uma segunda missão de técnicos, no primeiro trimestre do ano que vem, para que o processo possa ser finalizado.

Camargo Neto disse ainda que a União Europeia poderia autorizar a carne produzida em Santa Catarina em 2011.

Mas caso nada disso aconteça no ano que vem, ele também não vê sérios problemas para o setor, pois o mercado interno continuará consumindo boa parte da carne produzida no país.

Reuters