quinta-feira, 17 de junho de 2010

Com nova aquisição, Marfrig pretende conquistar mercado asiático

São Paulo, SP, 17 de Junho de 2010 - A Marfrig Alimentos vê a China como a nova fronteira para o avanço do consumo de proteínas e vai usar a recém-adquirida Keystone Foods para ampliar sua presença no país e também em outras nações da Ásia. A americana Keystone, comprada pela brasileira por US$ 1,26 bilhão esta semana, tem cinco unidades de processamento de carnes na China, Tailândia, Malásia e Coreia. E constrói uma nova planta na China, informou ontem, em teleconferência com analistas para explicar o negócio, o diretor de planejamento e relações com investidores, Ricardo Florence.
Com a aquisição, que será financiada com a emissão de R$ 2,5 bilhões em debêntures conversíveis em ações, a Marfrig também se torna um dos maiores fornecedores do McDonald's no mundo. No Brasil, já é fornecedor exclusivo da rede de fast food.
"A compra da Keystone foi a operação mais importante feita pela Marfrig. Com ela, fechamos o ciclo na cadeia produtiva e ampliamos a plataforma de distribuição, principalmente na Ásia, que é uma das regiões estratégicas para o crescimento", afirmou Marcos Molina, presidente da Marfrig. Ele disse ainda que a aquisição permitirá fortalecer o negócio global com o McDonald's e também a presença da Marfrig na China, onde, afirmou, seriam necessários no mínimo cinco anos para ter uma plataforma consolidada.
A Keystone, cujo faturamento está estimado em US$ 6,4 bilhões, tem 54 unidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, países da Europa, Ásia e Oriente Médio, e fornece processados de carne bovina, de aves, suína, de cordeiro e peixe para mais de 28 mil restaurantes. Além do McDonald's, tem entre seus clientes Campbell's, Subway, ConAgra, Yum Brands e Chipotle.
Após 38 aquisições em três anos e uma diversificação cada vez maior dos negócios, o plano da Marfrig é ampliar a fatia dos industrializados em sua receita, de acordo com Ricardo Florence.
Segundo ele, estimativas preliminares indicam que Marfrig e Keystone juntas deverão gerar sinergias de US$ 100 milhões até 2012. Os ganhos virão porque a Marfrig vai aumentar a produção usando a plataforma global da Keystone. Além disso, a empresa irá integrar as operações de sua controlada Moy Park com as redes de distribuição da Keystone no Reino Unido e França. As vendas ao McDonald's também devem crescer. A Keystone poderá ainda distribuir na Ásia produtos provenientes das fábricas da Marfrig na América do Sul.
Apesar das sinergias entre as empresas, analistas que participaram da teleconferência mostraram preocupação com a dificuldade que a Marfrig pode ter para integrar a mais recente aquisição.
Molina disse que, ao adquirir a Keystone, a Marfrig não está "comprando faturamento". "A Keystone foi a oportunidade para fechar a cadeia", acrescentou. Ele contou que o fundo de private equity Lindsay Goldberg, que controlava a Keystone, decidiu vender a empresa e procurou a Marfrig justamente porque esta já é fornecedora do McDonald's no Brasil.
O empresário afirmou ainda que "não tem mais como fazer novas aquisições" para não diluir sua participação no capital da companhia, de 41%. "Eu não posso mais me diluir. Vou trabalhar os próximos cinco anos para ter o melhor retorno possível na performance da Marfrig e consolidar".
De qualquer forma, a preocupação dos analistas se refletiu nas ações da companhia, que caiu de novo ontem. O recuo foi de 1,03%. Além disso, a agência de avaliação de risco Moody's colocou os ratings B1 das notas seniores emitidas pela Marfrig em revisão para possível rebaixamento. Para a Moodys, "a integração dessas operações [Keystone] aos negócios da empresa trará grandes desafios operacionais e de execução".
O financiamento da aquisição também esteve na pauta dos analistas durante a teleconferência da Marfrig. Questionado se o BNDES, que tem fatia de 13,89% da Marfrig, poderia subscrever as debêntures, Ricardo Florence disse que "existem entendimentos avançados com investidores que garantem essa operação". Não mencionou o banco de fomento. Procurado, o BNDES disse que não comenta o assunto.